sexta-feira, 12 de novembro de 2010

MELANCOLIA

A melancolia me empurra sem dó para um lugar arenoso e vazio
Acompanho o presente e o passado junto à janela que mostra a luz apagar

Diferente é a noite que esconde os vivos e exala o cheiro dos mortos
Jogamos o tempo inteiro, perdemos e ganhamos, nos arrependemos sempre
Queremos sempre fazer do outro nosso melhor imitador

Quando somos enganadores de uma alma bem próxima de cada um
Espelho é para fazer aquilo que o meu interior se nega refletir
Ele denuncia a manta de cacos e fuligens que se avolumam pelas vísceras
Traduzimos os romances esquecidos pela fraca memória

Preferimos observar de longe o movimento rápido do tempo
Grandes são as obras dos loucos, magistrais são as edificações dos néscios
Olhares nunca são perdidos, eles apenas seguem o marco infinito da visão

Deitado imóvel olha fixamente o teto, ali é pintado um trecho de uma
história qualquer
Sentado no banco de jardim, comenta com aparente alegria a profusão de cores
Contempla qualquer coisa que simplesmente exista, que simplesmente sinta

Ao anoitecer os semblantes se escondem entre um lugar sombrio e os muitos fantasmas
Gritar é fincar sobre o crepúsculo os maiores medos, é tentar fugir do flagelo
Chorai os que ainda podem, pois é chagada a hora que as próprias lágrimas secaram

Conversai, dialogai entre voz, pois haverá um tempo que o silêncio falará mais alto
Caminhamos a passos largos para um lugar de imensa escuridão e sem vida
Realidade que grita, realidade que engana, realidade que leva até a cova dos leões

A demência luta tenazmente contra as convenções, um gesto contrário leva ao sanatório
Alegria sempre está ao redor daquele que brinca com a piedade e o horror
Ninguém mais quer pertencer a ninguém, querem sim é rejeitar e mergulhar do abismo

Negro é o quadro pintado pelos inocentes, branco é o quadro pintado pelo astuto
Somos cuidados por aqueles que atestam e padecem da mesma patologia
A única diferença é que eles não têm mais cura, pois rejeitaram o tratamento e a droga

Verdade possível de ser dita vem sempre acompanhada da mentira preferida
A música nos leva ao infinito e ao belo, viajamos até o instante de despertar para a finitude
Ainda jovem, fazíamos, falávamos por nós e pelos outros, hoje preferimos os sinais e o fim

Gestos afetivos nos deixam felizes, felizes queremos enfim chegar ao estágio pleno
O sorriso é o que perfuma a existência humana, já a amargura, apodrece de dentro para fora

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